Dificilmente o Santos x Palmeiras de sábado superará a final do Paulista-59
Por Marcos Júnior Micheletti/Portal Terceiro Tempo
A grande decisão da Libertadores desta temporada, entre Santos e Palmeiras, reedita um confronto ocorrido há 61 anos, quando as duas equipes precisaram de três jogos para que o campeão do Paulista de 1959 fosse conhecido, embora as partidas tivessem sido disputadas em janeiro de 1960, todas no Pacaembu.
O Palmeiras, comandado por Oswaldo Brandão, ficou com o título.
O Alviverde, à época, tinha uma equipe com estofo para disputar em condições de igualdade o título com o Santos.
Mesmo com o pior retrospecto na década de 50 até então, apenas o título de 1950, o Palmeiras vinha em uma curva ascendente, contando com jogadores da estirpe de Julinho Botelho, Djalma Santos e Chinesinho.
O Santos, do técnico Lula, campeão em 1955, 1956 e 1958, tinha uma linha de ataque dos sonhos, com Pelé, Coutinho e Pepe.
EQUILÍBRIO TOTAL NOS DOIS PRIMEIROS JOGOS
O primeiro jogo foi disputado no dia 5 de janeiro, uma terça-feira à tarde. O Santos abriu o placar aos 22 do primeiro tempo, com Pelé. Antes do intervalo, Zequinha empatou para o Palmeiras, dando números finais ao embate: 1 a 1.
Na segunda partida, novo empate, eletrizante por sinal.
Em 7 de janeiro de 1960, Pepe tirou o zero do placar aos 25 minutos do primeiro tempo, de pênalti. O zagueiro santista Getúlio fez contra, deixando o confronto igual em 1 a 1, aos três minutos do segundo tempo.
O Peixe sentiu o golpe, e dois minutos depois o meia gaúcho Chinesinho virou o placar a favor do Palmeiras.
Tudo se encaminhava para a vitória palmeirense, mas o Santos teve uma nova penalidade a seu favor, que foi novamente convertida por Pepe, aos 35.
A PARTIDA DECISIVA E A ESTRELA DE ROMEIRO:
Como havia feito na primeira partida, Pelé abriu o placar, aos 14 da etapa inicial. Julinho Botelho, que chegara ao Palestra Itália em 1958, após brilhante passagem pela equipe italiana da Fiorentina, empatou o jogo, quando restavam dois minutos para o final do primeiro tempo.
As equipes desceram para os vestiários do Pacaembu, que tinha a concha acústica no lugar hoje ocupado pelo tobogã, em igualdade no placar.
Porém, assim que Anacleto Pietrobon (o Valussi) apitou o início da fase final, o Palmeiras foi à ofensiva e, em cobrança de falta, o ponta-esquerda Romeiro fez o gol da virada, 2 a 1, (foto que abre este texto) placar final que decretou o título palmeirense diante do Santos em 10 de janeiro de 1960.
OS PERSONAGENS DOS CONFRONTOS ENTRE SANTOS E PALMEIRAS NO CAMPEONATO PAULISTA DE 1959.
(CLIQUE NAS FOTOS E ACESSE AS RESPECTIVAS PÁGINAS NA SEÇÃO "QUE FIM LEVOU?")
O carioca José Cardoso Romeiro Neto, autor do gol da virada no jogo final da decisão, chegou ao Palmeiras vindo do América-RJ.
Depois de jogar pelo Palmeiras, clube pelo qual marcou 62 gols, ainda defendeu a Ponte Preta, o Santa Cruz-PE e os colombianos Deportivo de Cali, Atlético Júnior e Júnior de Barranquilha.
Faleceu em São Paulo, aos 74 anos, vítima de infarto. Foto: Portal Terceiro Tempo
O maior jogador de futebol de todos os tempos marcou os gols que abriram os placares da primeira e da terceira partida.
Mineiro da cidade de Três Corações, Pelé marcou 1091 gols pelo Santos, clube que defendeu entre 1956 e 1974, em 1116 partidas.
Disputou mais 64 jogos pelo Cosmos de Nova York (EUA), onde marcou mais 106 gols.
Pela seleção brasileira, em 92 jogos, marcou 95, totalizando 1282 gols. Foto: Marcos Júnior/Portal TT
Marcou três dos quatro gols que o Santos fez nas três partidas que decidiram o título paulista de 1959. Um no primeiro jogo e dois (ambos de pênalti) no segundo.
José Macia, o Pepe, também chamado de "Canhão da Vila", é o segundo maior artilheiro da história do Santos, com 405 gols. Sobre isso, Pepe costuma brincar. "Sou o maior artilheiro do Santos, porque o Pelé (o primeiro) não é desse planeta". Foto: Marcos Júnior/Portal TT
O homem que reverteu uma ruidosa vaia em aplausos esfuziantes no Maracanã em 1959 (escalado como titular no lugar de Garrincha no amistoso diante da Inglaterra), formou ao lado de Djalma Santos um dos lados direitos mais fortes da história do futebol. O entrosamento havia sido iniciado alguns anos antes, quando ambos atuaram pela Portuguesa de Desportos.
Foi de Julinho o primeiro gol da partida que decidiu o título paulista de 1959 a favor do Palmeiras na tarde de 10 de janeiro de 1960, um domingo.
O hábil e forte Julinho chegou ao Palmeiras em 1958, após brilhante passagem pela italiana Fiorentina, onde até hoje é reverenciado como um de seus maiores ídolos.
Paulistano do bairro da Penha, morreu aos 73 anos de idade, no dia 11 de janeiro de 2003, vítima de problemas cardíacos. Foto: Portal Terceiro Tempo
O gaúcho Sidney Colônia Cunha, conhecido desde a infância como Chinesinho, marcou o gol da virada palmeirense diante do Santos no segundo jogo da decisão.
Chegou ao Palmeiras em 1958, após brilhante passagem pelo Internacional-RS, onde integrou o chamado "Rolo Compressor" ao lado de Larry e Bodinho, entre outros. No Colorado
Natural da cidade de Rio Grande, Chinesinho morreu em sua cidade natal aos 75 anos, em 16 de abril de 2011, após ter morado por vários anos no litoral de São Paulo, em Praia Grande. Foto: Portal Terceiro Tempo
O recifense José Ferreira Franco, conhecido como Zequinha, foi o autor do gol de empate do Palmeiras na primeira partida decisiva, após Pelé marcar para o Santos.
Um dos mais longevos jogadores que atuaram pelo Palmeiras (417 jogos ao em dez anos defendendo a camisa alviverde), Zequinha atuava como volante, tendo sido antecessor de Dudu na posição.
Morreu no dia 26 de julho de 2009, aos 74 anos, vítima de infarto. Ele morava em Olinda-PE. Foto: Portal Terceiro Tempo
O zagueiro santista teve a infelicidade de marcar um gol contra na segunda partida decisiva, quando o Peixe vencia por 1 a 0, tento assinalado por Pepe.
Antes de chegar à Vila Belmiro passou por Fluminense e Jabaquara.
Lutou por dois anos contra o Mal de Alzheimer e faleceu no dia 15 de setembro de 2008, aos 77 anos, por falência múltipla dos órgãos, decorrente de hepatite. Foto: Portal Terceiro Tempo
HOMENS DE PRETO – OS TRÊS ÁRBITROS DOS JOGOS QUE DECIDIRAM O CAMPEONATO PAULISTA DE 1959.
Austríaco radicado no Brasil, foi o árbitro da primeira partida da decisão.
Teve uma longa carreira entre as décadas de 50 e 60, ligado à antiga CBD (Confederação Brasileira de Desportos), antecessora da CBF e a Federação Paulista de Futebol.
Morreu em 12 de junho de 2010, ao 92 anos, na cidade de Catanduva, interior de São Paulo. Foto: Portal Terceiro Tempo
Responsável pela arbitragem no segundo jogo decisivo (empate em 2 a 2), marcou dois pênaltis a favor do Santos, ambos convertidos por Pepe.
Apaixonado por futebol, depois de deixar a arbitragem profissional, integrou a Liga de Futebol de Atibaia, cidade em que residiu até sua morte, em 9 de junho de 2014, aos 91 anos de idade. Foto: Portal Terceiro Tempo
Ele deu o apito final à decisão do Paulistão de 1959, na tarde de 10 de janeiro de 1959, um domingo, dia em que o Palmeiras venceu o Santos por 2 a 1.
Anacleto Pietrobom, também conhecido como Valussi, foi jogador de futebol profissiona (zagueiro)l antes de ingressar na arbitragem, onde atuou até os 45 anos. Jogou pelo Corinthians entre 1943 e 1949 e também passou por Portuguesa e Juventus.
Morreu aos 89 anos de idade, no dia 29 de junho de 2012. Foto: Portal Terceiro Tempo
OS TÉCNICOS
Com seu estilo "paizão", bom conselheiro, o lendário técnico palmeirense Oswaldo Brandão tinha um ótimo time à disposição e conseguiu segurar o talento de Pelé e sua trupe com maestria. Ele já havia dirigido o time alviverde no título paulista de 1947 e ainda ganhou os campeonatos paulistas de 1972 e 1974, além dos brasileiros de 1960, 1972 e 1973 pelo clube de Parque Antártica. Conseguiu um feito consagrador pelo Corinthians, em 1977, comandando o time que encerrou um jejum de 23 anos sem títulos. Aliás, o último triunfo alvinegro havia sido sob sua batuta, em 1954.
Natural da cidade gaúcha de Taquara, morreu em 29 de julho de 1989, aos 72 anos de idade. Foto: Portal Terceiro Tempo
Luís Alonso Peres, o Lula, vinha de uma sequência de títulos pelo Santos na década de 50, com os triunfos em 1955, 1956 e 1958, mas não conseguiu sobrepujar o Palmeiras de Oswaldo Brandão na disputa do título de 1959.
É o técnico mais vitorioso da história do Santos. Foi campeão paulista de 1955, 1956, 1958, 1960, 1961, 1962, 1964 e 1965. Foi bicampeão da Libertadores (em 1962 e 1963), bicampeão mundial interclubes (1962 e 1963), campeão da Taça Brasil de 1961 a 1965, campeão do Rio-São Paulo de 1959, 1963, 1964 e 1966, entre outros. No total, em 12 anos e seis meses no comando técnico do Santos, conquistou 34 títulos, feito que segundo seu filho, Luís Alonso Peres Filho, é recorde mundial.
Morreu aos 79 anos de idade, no dia 15 de junho de 1972. Foto: Portal Terceiro Tempo
OPINIÕES DE TORCEDORES
O palmeirense Pedro Luiz Boscato conta em detalhes algumas passagens dos jogos decisivos do título de 1959.
"Foi uma decisão emocionante. Na terceira partida o Pacaembu estava com 70% a 80% de palmeirenses, um foguetório tremendo quando o Palmeiras entrou em campo, tinha que ser o dia de Palmeiras mesmo, que já havia sido superior nos dois jogos anteriores. No 2 a 2 do segundo jogo, Valdir (Joaquim de Moraes) chegou até a tocar na bola nos dois pênaltis cobrados por Pepe com seus canhões. No jogo decisivo, Pelé abriu a contagem, mas o Palmeiras cresceu, se agigantou, Julinho empatou numa bola rebatida por Formiga aos 42 minutos e 30 segundos, e logo no início do segundo tempo Romeiro fez 2 a 1 cobrando espetacularmente uma falta aos dois minutos e meio. O Palmeiras, depois, ainda mandou duas bolas na trave, uma chutada por Américo e outra em uma falta cobrada por Romeiro, que Laércio não quis barreira", detalha Boscato. Foto: Marcos Júnior/Portal TT
O corintiano Waldemar Micheletti, que nos deixou em 25 junho de 2017, lembrava bem das duas equipes
"O Santos tinha mais time que o Palmeiras, mas ambos contavam com jogadores que chutavam extraordinariamente bem: Pepe (Santos) e Romeiro (Palmeiras). O Santos tinha Pelé (que dispensa comentários), Zito, para mim o melhor volante que vi jogar, além de Pagão e Jair Rosa Pinto, outros gênios. O Julinho Botelho foi um grande ponta, que fez o gol de empate na partida final. Considero o Julinho atrás apenas de dois outros ponteiros: Garrincha e Cláudio Cristóvam de Pinho (meu maior ídolo no Corinthians). O Aldemar (zagueiro do Palmeiras na decisão) marcava muito bem o Pelé, sem dar 'botinada', ponderou Waldemar em entrevista concedida em 2015. Foto: Marcos Júnior/Portal TT
ABAIXO, OS MELHORES MOMENTOS DE PALMEIRAS 2 X 1 SANTOS (CANAL 100), COM NARRAÇÃO DE CID MOREIRA
A festa dos jogadores do Palmeiras, após a conquista do Campeonato Paulista de 1959, cuja final foi decidida em 10 de janeiro de 1960. Na imagem espetacular, Reali Júnior, com o microfone da Rádio Record, tentando entrevistar Geraldo Scotto, um dirigente palmeirense, e o ex-atacante Nardo. Do lado direito, Julinho Botelho abraça um senhor calvo. O palmeirense de costas, sendo abraçado por muitos, é o zagueiro Waldemar Carabina, com a camisa número 3. Atrás deles, Américo Murolo. Ao fundo, ao lado da concha acústica, é possível ler o nome Palmeiras no placar e o número 2 acima das letras.
Djalma Santos, ajudando Julinho calçar suas chuteiras. Eles formaram o fortíssimo lado direito do Palmeiras. Foto: Divulgação
ABAIXO, VÍDEO COM DEPOIMENTO DE MILTON NEVES SOBRE JULINHO BOTELHO, UM DOS PROTAGONISTAS DO TÍTULO PALMEIRENSE DE 1959. MILTON FALA, INCLUSIVE, DA PARTIDA QUE DECIDIU AQUELE CAMPEONATO
Fontes para pesquisa:
Almanaque do Palmeiras, de Celso Unzelte e Mário Sérgio Venditti
Almanaque do Santos, de Guilherme Nascimento
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