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Milton Neves

Assis, de promessa do futebol a fazedor de promessas

Milton Neves

08/03/2020 09h23

O profético texto abaixo foi escrito pelo jornalista e cronista gaúcho Airton Gontow, no ano de 2011.

Para quem não se lembra, naquela época, os irmão Ronaldinho e Assis flertaram com Grêmio e com o Palmeiras, mas acabaram fechando a transferência do craque mundial para o Flamengo, então presidido por Patrícia Amorim.

Leia com atenção e perceba o quão atual é esse texto de nove anos atrás.

Por Airton Gontow
Jornalista e cronista

Você se lembra do jogador Assis? Não, não falamos do ótimo atleta do Fluminense e do Atlético-PR, que marcou época no futebol brasileiro, formando com o centroavante Washington a versão brasileira do Casal 20.

Nos referimos a Roberto de Assis Moreira, o empresário, conhecido no mundo do futebol, como 'o irmão do Ronaldinho Gaúcho".

Baixinho e habilidoso, foi um dos grandes casos de craque excepcional que acabou não acontecendo. Integrou diversas Seleções Brasileiras e atraiu o interesse dos europeus que tentaram "sequestrá-lo" para a Itália. Foi resgatado pelo Grêmio e brilhou por pouco mais de um ano no tricolor gaúcho, que conduziu ao título da Copa do Brasil de 89, com atuações estupendas. Fez um dos gols na vitória gremista de 2 a 1 na partida final contra o Sport. Na semifinal, o time gaúcho havia despachado o Flamengo com uma humilhante goleada de 6 a 1.

Na época, o empresário Juan Figer chegou a afirmar que Assis era a promessa mais valiosa do futebol mundial.

Com muitas perspectivas, em estranhíssima transação Assis foi jogar no vibrante futebol suíço: no FC Sion. Lá seu futebol não evoluiu, apesar de algumas boas atuações. Pelo contrário, piorou, murchou. Quase sumiu. Mesmo assim, conseguiu transferir-se em 95 para o Sporting Clube do Porto, onde ficou pouco tempo. Em 96, jogou seis meses no Vasco e outro semestre no Fluminense. Voltou ao Sion e, novamente, a Portugal, para jogar no poderoso CF Estrela da Amadora. Pouco depois foi atuar na equipe japonesa do Consadole Sapporo. No ano 2000, foi defender o Corinthians e, em 2001, foi à França, para jogar no Montpellier, onde encerrou sua carreira.

Assis acabou não acontecendo. Percorreu o mundo, mas não chegou ao estrelato. Fracassou, para a surpresa de todos que o acompanharam nas equipes de base do Grêmio e da Seleção Brasileira.

Com a morte prematura do pai, tornou-se a figura paterna para o pequeno Ronaldo. E quando Ronaldinho Gaúcho confirmou as previsões de que seria o maior craque da família Moreira, Assis passou a gerenciar a sua carreira. Não deixaria o irmão repetir seus próprios erros, garantiu.

Roberto de Assis Moreira é presidente e fundador do Porto Alegre Futebol Clube, criado em janeiro de 2006. Após alguns anos na Segundona Gaúcha, o Porto Alegre conquistou o título em 2009 e a ascensão à Primeira Divisão. No ano passado, garantiu a permanência na elite da competição estadual. Em 2011, estará novamente entre os principais times do estado.

Assis é um homem rico. Mas não conseguiu cumprir a promessa de ser um bom gerenciador para a carreira do irmão.

Ronaldinho Gaúcho ganhou competições importantes, foi campeão do mundo pela Seleção Brasileira, foi duas vezes eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA, tem uma fortuna estimada em 100 milhões de euros, mas está claro para todo mundo – mídia e torcedores – que – quando o assunto é apenas futebol e não situação bancária – é um jogador que desperdiçou o enorme talento que "Deus lhe deu".

Nunca um gênio do futebol amargou tantos momentos no banco de reserva. Foi assim no Grêmio, ainda que em início de carreira; assim foi no Paris Saint-Germain, no Milan e até mesmo no Barcelona. Aos 30 anos, não foi convocado para a Copa do Mundo de 2010.

Ronaldinho Gaúcho é um craque que não é o grande ídolo em nenhum dos clubes em que atuou. Teve, sabemos, milhões de admiradores no mundo inteiro. Mas não é amado por torcida alguma. Não deixou saudades no Paris Saint-Germain e no Milan. Saiu vaiado do Barcelona, onde foi substituído e implacavelmente superado por Messi.

Não tem nem a paixão da torcida brasileira. As vozes que cobraram Dunga por sua desastrosa convocação para a última Copa pediam Ganso e Newmar. Poucos reclamaram a ausência de Ronaldinho Gaúcho.

Nada indica que se for para o Flamengo o excepcional jogador conseguirá ocupar na história do clube e no coração do torcedor rubro-negro o espaço que é de Zico. Sua última chance de se tornar um ídolo para a história era no Grêmio.

Há poucos indícios de que o jogador está realmente disposto a resgatar seu grande futebol. As notícias sobre o craque gaúcho mostram que ele encontrou Romário na churrascaria Porcão, que foi esta semana a uma feijoada e que ontem foi até Florianópolis para assistir, às duas da manhã, ao show de Amy Winehouse. Nenhuma informação ou imagem trazem o Ronaldinho entrando em uma academia ou correndo na praia, em busca de entrar em forma, ainda que todos os times já estejam em plena pré-temporada.

O leilão promovido por Assis e a ridícula coletiva de imprensa no Copacabana Palace desgastaram ainda mais a marca Ronaldinho Gaúcho. Se o futebol do jogador já estava em declínio desde 2006, sua imagem parece seguir o mesmo caminho, ainda que seu provável destino seja o Flamengo, time com a maior torcida do futebol mundial.

Promessa e Assis são palavras que andam, inexoravelmente, juntas. De eterna promessa, Assis é um homem que promete para todo mundo.

É triste a atual imagem de Ronaldinho Gaúcho.

Seu famoso sorriso faceiro parece hoje, para a maioria das pessoas, o riso de um homem sem personalidade, um bobo alegre, que deixa tudo nas mãos do irmão.

Assis e Ronaldinho Gaúcho flertaram ao mesmo tempo com pelo menos três clubes, deram a palavras de que o negócio estava fechado e fizeram promessas que não cumpriram. Juras de amor foram apenas para o Grêmio. Cairão, porém, nos braços de outros torcedores.

Para os gremistas que estão tristes e indignados, digo o que falaria para um bom amigo, traído pela mulher:

– Chora não. Ela não presta!


Relembrando que o texto acima foi escrito pelo jornalista Airton Gontow no ano de 2011. 

Mas, como vocês puderam perceber, segue muito, mas muito atual. 

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Sobre o autor

Milton Neves é jornalista profissional diplomado, publicitário, empresário, apresentador esportivo de rádio e TV, pioneiro em site esportivo no Brasil, 1º âncora esportivo de mídia eletrônica do país, palestrante gratuito de Faculdades e Universidades, escrivão de polícia aposentado em classe especial, pecuarista, cafeicultor e é empresário também no ramo imobiliário.