Tite chuta a meritocracia
Por Wladimir Miranda
Everton Cebolinha, um dos raros talentos com a bola nos pés do futebol brasileiro atual, daqui e do exterior, capaz de desmontar defesas fechadas com seus dribles e ousadia, será reserva no amistoso desta quinta-feira, 10/10, em Singapura, contra o "poderoso" Senegal. Em seu lugar, joga Neymar.
A alteração foi confirmada pelo técnico Tite. Um paradoxo, para ser bem-educado, pois que a vontade que dá é a de dizer que trata-se, na verdade, de uma grande sacanagem que o treinador da Seleção Brasileira faz com o jogador do Grêmio.
O habilidoso, rápido, talentoso atacante foi o grande destaque da equipe brasileira na conquista da Copa América, disputada no Brasil no primeiro semestre. Foi um dos poucos brilhos de uma seleção opaca, previsível, que teve muitas dificuldades para vencer a competição.
Neymar, lesionado e no auge de seus problemas pessoais com a modelo Najila Souza, que o acusava de estupro, foi desligado ainda no período de treinos. A sua posição, pelo lado esquerdo, foi brilhantemente ocupada por Everton.
O cearense não se intimidou. Saiu da reserva para marcar seu nome na história do futebol brasileiro. Foi o artilheiro do torneio, ao lado do peruano Paolo Guerrero, feito só alcançado por Pelé, Heleno de Freitas, Jair Rosa Pinto e Ronaldo Fenômeno;
Sim, foram só três gols marcados. Mas o problema é do nível baixo de uma competição, disputada no final de temporada para a maioria das seleções presentes.
Reserva até a partida com a Bolívia, em que entrou no segundo tempo, Everton Cebolinha começou fazendo gol.
Ganhou, a partir daquele jogo, o status de craque e passou a ser a aposta de Tite para a conquista do título.
O que significa que, por merecimento, o atacante gremista teria de ser o titular no jogo desta quinta-feira. Trata-se de uma questão de meritocracia, palavra tão utilizada pelo técnico Tite em seus longos e cansativos discursos feitos antes e depois das partidas.
Que Neymar é craque, ninguém discute. Que, com ele, a Seleção Brasileira perde bastante em termos de jogo coletivo também é notório. Basta ver a seleção em campo com o jogador do PSG para comprovar.
Neymar tem de jogar. Ele é a grande atração da seleção. É sinônimo de maior audiência na televisão, o que significa retorno financeiro garantido para a empresa responsável pela promoção das partidas amistosas da equipe da CBF no exterior.
Se Neymar é imprescindível e, sim, insubstituível, ao contrário do que Tite disse, cabe ao treinador da seleção arrumar um lugar para ele no time. Mas não no posto de Everton Cebolinha, que o jogador do Grêmio conquistou com todos os méritos na Copa América.
Técnico que é bom consegue encaixar todos os craques no time. Foi exatamente isso que Zagallo fez na campanha do tri, no México, em 1970. Sem comparar o futebol de hoje com o de ontem, não houve trauma e nem drama para que Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino formassem juntos um ataque dos sonhos, gols, espetáculos e título.
Tite, pois, está sendo incoerente. Prega a meritocracia, mas não preza e valoriza a meritocracia em seu trabalho como técnico da Seleção Brasileira.
E isto é muito ruim. Deplorável. Agindo assim, o recado que Tite dá aos seus comandados é que há privilégios na sua maneira de lidar com o grupo.
Privilégios comprovados na Copa da Rússia, quando Neymar e família tiveram regalias no hotel em que a delegação brasileira ficou concentrada.
Tite dá sinais de que está se sentindo mais seguro no cargo após a conquista da Copa América. Apesar dos avisos da CBF de que ele seria mantido no comando, mesmo com os erros cometidos, e assumidos por ele próprio, na Rússia, as críticas de torcedores e da mídia em relação ao seu trabalho estavam ficando cada vez mais frequentes. É fato que dirigente de futebol, de clubes ou da CBF, não costuma ir contra a vontade popular.
Na entrevista coletiva desta terça-feira, Tite apareceu ao lado de César Sampaio. O volante foi para os dois jogos nos Estados Unidos, contra a Colômbia e o Peru, como convidado. Carismático, e com imagem limpa diante dos torcedores, Sampaio pode ser efetivado no cargo e dar a esta seleção o que ela não tem: simpatia, leveza.
Mas isto só não basta. É pouco, muito pouco, para um técnico que mostra que não age com justiça.
Por Wladimir Miranda
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