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Milton Neves

O dia em que 'matei' Roberto Carmona

Milton Neves

29/06/2019 08h00

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Ah, aquele domingo pela manhã…

Foi ali por 1998, 2000, 2002, 2003 ou teria sido em 2004?

Estava chegando, como hoje já há 48 anos, para meus inesquecíveis plantões de domingo no rádio brasileiro em mais uma "rápida" jornada dominical de 12 ou 15 horas de microfone também de TV, aí a partir de 1999.

Foi na Jovem Pan.

Chovia naquela manhã e meu inseparável e saudoso Teletrim começou "a disparar e a berrar" como nunca.

Afinal, não estava ainda no ar e "por que meu Teletrim está tão agitado?", pensei.

O Teletrim, aparelho de comunicação muito popular entre os ano 80 e 90, foi bastante difundido nas tribunas de Milton Neves, que criou uma ligação muito próxima com seus fãs e colaboradores, carinhosamente apelidados de "Teletrinzistas"

Antes, dirigindo, fui pensando no Carmona, metro a metro, quilometro a quilometro.

De cara foram umas 60 mensagens de meus fiéis teletrinzistas, todos informando da morte do eterno e bom repórter esportivo… Roberto Carmona!!!

Enquanto dirigia do bairro do Campo Belo, onde morava, em direção à Avenida Paulista, o Teletrim não se calava.

Ao chegar na rádio já eram umas 250 mensagens "alertando" da "morte" de uma das maiores testemunhas da época áurea do futebol brasileiro.

Pelé é entrevistado pelo ótimo repórter Roberto Carmona

O jogo acabou, mas Pelé pacientemente atende aos petrificados repórteres no Pacaembu, em 1969. Da esquerda para a direita, de costas, o primeiro é Clóvis Messias (ex-Jovem Pan e Bandeirantes), o terceiro é Roberto Carmona, seguido por Chico de Assis, e o último (à direita) é Vitor Moran. E o camisa 10 de branco, quem seria? (risos)

Ademar Pantera, nos tempos de Palmeiras, sendo entrevistado por Roberto Carmona

E lembrando dele principalmente dos seus tempos de Rádio Gazeta AM que eu tanto ouvia e onde ele foi também incansável e preciso.

Mas, pronto, cheguei lá na Jovem Pan, tomei conta de minha "poltrona", calibrei o fone, dei bom dia ao meu fiel operador flamenguista Arthur Bolsonaro Figueroa, ajeitei do lado meus textos publicitários, tão incomodantes para patrulheiros invejosos e sofredores, e mandei para o ar: "Morreu Roberto Carmona, o repórter esportivo!".

Nos anos 90, ao lado de meu fiel operador flamenguista Arthur Bolsonaro Figueroa

Aí, já não estava mais sonado porque, há quase meio século, só acordo mesmo para valer no domingo cedo quando a luz vermelha acende no estúdio.

Com meu eterno companheiro Nini Rosso no ar interpretando seu épico "Il Silenzio", desfilei tudo que sabia de Roberto Carmona, "o morto".

Enfim, dei a notícia sem checar, afinal meus teletrinzistas nunca erraram comigo e era impossível três centenas deles estarem enganados.

Mas estavam!

E como!

Enquanto eram reprisados os gols do sábado, o saudoso operador-chefe, Paulo Barreiros Freire, socava o vidro que separava a técnica central do meu estúdio.

Aflito, ele, sinalizando com a mão no ouvido, exigia que eu tirasse do gancho o telefone-ramal, do meu lado.

Atendi e do outro lado da linha estava um furibundo Roberto Carmona, aos berros: "Seu imbecil, aqui é o Carmona! Eu não morri, não, estou aqui no velório de minha mãe, foi ela que morreu, eu não!".

Meu Deus, fiquei sem ação, pedi desculpas, que ele nem ouviu, batendo o telefone, cortei a reprise dos gols que estava no ar e anunciei, com ênfase:

"Atenção para esta retificação! Eu tenho uma 'grande' notícia. Há pouco dei a morte do jornalista Roberto Carmona, mas eu estava enganado, felizmente. A grande notícia é que Roberto Carmona não morreu, quem morreu foi a… mãe dele!!!".

Foi o clássico "pior a emenda do que o soneto".

Errei e errei feio, já pedi desculpas 1000 vezes, mas ele não me perdoa.

Quem sabe agora?

Por favor, Carmona!

A imagem acima, claro, é uma montagem. Mas bem que Carmona poderia me perdoar para termos uma foto original, não é mesmo?

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Sobre o autor

Milton Neves é jornalista profissional diplomado, publicitário, empresário, apresentador esportivo de rádio e TV, pioneiro em site esportivo no Brasil, 1º âncora esportivo de mídia eletrônica do país, palestrante gratuito de Faculdades e Universidades, escrivão de polícia aposentado em classe especial, pecuarista, cafeicultor e é empresário também no ramo imobiliário.