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Milton Neves

Eu sou a favor do "Chip da Bola"!

Milton Neves

21/06/2014 21h26

 

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"Foi gol", "Não foi, não, foi alta", "Não, foi baixa, foi gol", "Não foi nada, vocês estão roubando…".

Trechos "memoráveis" de violenta discussão entre "Carlinho Boca-de-Véia", o Carlos Miguel Araújo, hoje aposentado da Petrobrás em Campinas-SP e "Mirtinho Chupa-Dedo", o Milton Vanius de Almeida, atualmente médico em Juruaia-MG.

O entrevero, ainda comum em campinhos de terra sem traves por esse Brasil afora, aconteceu em pelada infantil ali por 1958 no recreio de nosso grupo escolar de Muzambinho-MG. Eu tinha sete anos e fui ali o que sou até hoje: torcedor, testemunha, observador, assistente.

Nunca joguei nada e nem andar de bicicleta aprendi, até porque nunca tive uma.

Mas e daí?

Daí que, como quando sentimos de novo no cérebro um aroma específico que nos remete por segundos para uma situação vivida há décadas e décadas, ao ver na TV o primeiro momento dessa feliz e tão demorada "arbitragem tecnológica" da FIFA, durante o jogo França 3 x 0 Honduras, imediatamente também voltei no tempo. E me senti de novo com menos de uma dezena de anos presenciando fantásticos clássicos sem traves da molecada de minha terra.

À época, o "campo de jogo" tinha dois tijolos como traves e o travessão era imaginário, invisível, imaginado, aéreo.

Daí tantas as naturais discussões se a bola foi alta ou não, se foi gol ou não.

E creiam, o "Chip do Gol" chegará também nas peladas!

Primeiro, aleluia, chegou em jogo de Copa do Mundo, o máximo dos máximos.

Tinha que ser assim: é o único exemplo prático de cima pra baixo que realmente funciona.

E funcionará destruindo as teses ridículas que venho há anos vendo, lendo e ouvindo contra a tecnologia no futebol.

Faz 50 anos que João Havelange garante absurdamente que o erro de arbitragem faz um bem danado para o futebol "porque a polêmica do apito errado aumenta e perpetua a importância desse esporte como número 1 de todas as modalidades esportivas".

Ora, isso pra mim, pela histórica quantidade de erros de arbitragem que tivemos por ausência de tecnologia no esporte líder, é como defender a morte do carrapato por tiros mesmo estando ele na barriga da vaca.

E as bobagens que a tecnologia "vai tirar o romantismo do futebol" e que o mundo do futebol só utilizará essa metodologia caríssima nas competições top como Copa do Mundo, EuroCopa, Libertadores e campeonatos nacionais dos países líderes?

Outros dois enganos.

Emplacando como já emplacou nesta maravilhosa "Copa das Copas" (sim,  a Dilma, na bamba ou não, acertou na mosca!), todos os países, campeonatos de todas as séries, torneios e federações equiparão seus estádios com os óbvios, ótimos e tardios chips, verdadeiros Ovos de

Colombo da bola.

E o custo deles cairá na base do "quanto mais produzir, mais barato fica".

E o tal fim do "romantismo do futebol"?

Pedro Trengrouse, o lúcido professor-doutor da FGV, foi preciso indo no âmago da questão: "É preciso olhar parar o futebol como atividade econômica, não apenas como lúdica"!

Sim, acabou o romantismo do futebol, mas só aquele de ontem imaginado e ouvido pelo rádio e praticado por jogadores geniais que ficaram pobres pela inexistência do marketing esportivo em suas épocas.

Com o fim do "romantismo-poético" veio o "profissionalismo-moderno", mas não acabará nunca o fascínio dos povos pela bola neste grande negócio mundial de todos os sentidos e segmentos correlatos-entrelaçados do gandula ao satélite, da várzea à FIFA, do jornalismo à publicidade.

O futebol era e sempre será emoção e paixão, mas agora é também negócio, além de lazer e… entretenimento!

Basta ver o que significa a letra "E" da poderosa marca esportiva "ESPN".

E esse grande negócio que envolve tantos interesses, paixões, alegrias e discussões não poderia mesmo suportar mais tantos e infantis erros de arbitragem, hoje perfeitamente evitáveis, que mudaram para muito pior a vida, a história e o futuro de tantas seleções, países, times, jogadores e suas famílias.

Mas o "Chip da Bola" na linha do gol é muito pouco e agora a FIFA deve ampliar o raio de ação dos seus olhos de alta tecnologia e de última geração.

Assim, que venha o "Chip do Impedimento"!

Sim, o impedimento, impossível de ser detectado corretamente em 100% pelo olho humano, faz 1000 vezes mais estrago do que o lance polêmico e raro da bola na linha do gol.

Como nos esportes americanos, os mais caros e profissionais do mundo, o jogo é paralisado, a arbitragem vê o tape, decide pelo sim ou pelo não, a torcida aguarda pacientemente e a implacável decisão é respeitada por todo o estádio e pela mídia.

A justiça da disputa é praticada e o andamento da partida tem prejuízo zero em suas expectativas.

E no tênis então?

A trajetória da bolinha amarela no telão quando dos desafios tornou-se grande atração com os torcedores vibrando de novo como que se o jogo estivesse em andamento.

O desafio do tênis foi um "golaço" extraordinário e indiscutível.

Assim, com um atraso secular, parabéns à morosa FIFA por seu "Chip do Gol", mas ficam faltando o "Chip do Impedimento", o "Chip do Pênalti", o "Chip Contra a Compra de Voto Para Eleição de Sedes de Copa do Mundo" e o "Chip do Doping".

Ou seja, atleta jogou dopado por um minuto ou o jogo inteiro, o time dele perde os pontos!

E as peladas das molecadas nos campinhos de terra perderão as discussões das bolas altas ou não, mas ganharemos novos craques de futebol que aprenderão desde cedo que o acerto do apito no futebol é uma sábia demonstração de justiça na vida.

Bem-vindo, democrático Chip da Bola, o símbolo de um esporte que forja caráter e saúde com base na disputa e sadia rivalidade.

Mesmo sendo ele, o futebol, "a coisa mais importante dentre as menos importantes"! (Arrigo Sacchi)

 E aí, meus caros torcedores? Vocês são contra ou a favor da tecnologia no futebol?

Bélgica 1 x 0 Rússia

E no Maracanã, Bélgica e Rússia fizeram hoje um joguinho bem meia boca, viu?

Tudo se encaminhava para um empate, mas, aos 42 minutos do segundo tempo, Origi garantiu a vitória e a classificação da equipe belga.

Mas, mesmo assim, essa "ótima geração belga" ainda está devendo muito neste Mundial, hein?

Argélia 4 x 2 Coreia do Sul

Nesta copa não existiu a correria coreana e pela primeira vez em uma Copa do Mundo uma seleção africana marcar quatro gols em uma partida.

Mesmo com esforço dos argelinos, devem ficar fora da próxima fase do mundial.

Estados Unidos 2 x 2 Portugal

No último suspiro e força de Cristiano Ronaldo, Portugal conquistou o empate e a chance de continuar na Copa do Mundo.

O resultado foi péssimo para os americanos, que enfrentam a Alemanha para decidir uma vaga nas oitavas-de-final do Mundial.

Sobre o autor

Milton Neves é jornalista profissional diplomado, publicitário, empresário, apresentador esportivo de rádio e TV, pioneiro em site esportivo no Brasil, 1º âncora esportivo de mídia eletrônica do país, palestrante gratuito de Faculdades e Universidades, escrivão de polícia aposentado em classe especial, pecuarista, cafeicultor e é empresário também no ramo imobiliário.