Mauro Beting se declara ao Galo

O comentarista Mauro Beting, da Rádio Bandeirantes de São Paulo e de outros "trocentos" veículos de comunicação, foi doutrinado na igreja palmeirense, por obra dos pais, Joelmir e Lucila.
Entretanto, o jovem serelepe, amante do futebol, percebeu que o esporte mais popular do planeta não se resumia ao time do coração.
Hoje, Mauro Beting (falando sério) é um dos principais personagens da história da crônica esportiva desse país, como diria Lula, e um admirador fiel e convicto da Massa.
Para homenagear o Clube Atlético Mineiro e sua torcida, o "multifuncional" fez um texto irrepreensível, emocionante, delicioso, forte e vingador.
Eu, Milton Neves, como fã incondicional da torcida mais vibrante e espetacular do planeta, recomendo a crônica.
Só uma ressalva aos cruzeirenses.
Não leiam.
O risco de virar a casaca é enorme.
"O melhor lance do Atlético não foi num jogo.
Foi fora dele. Foi numa derrota.
Minto, num empate de um time invicto, o supervice-campeão do BR-77.
Não foi o melhor jogo ou jogada.
Mas não teve nada mais atleticano que aquilo: depois da derrota nos
pênaltis para o São Paulo, Mineirão e Brasileirão estupefatos pela queda
sem derrota de um senhor time de bola, os jogadores baqueados e barreados
pela chuva e pela lama se abraçaram no gramado e assim foram ao vestiário.
Foi a primeira vez que vi a cena reverente que virou referência.
Ninguém estava fazendo marketing (nem existia a tal palavra).
Nenhum jogador estava jogando pra galera.
Era fato.
Time e torcida estavam juntos naquele abraço doído e doido.
Como tantas vezes o atleticano esteve junto com o time. Qualquer time.
Nada é mais atleticano que aquilo: um time que se comportou como o
torcedor.
Solidário na dor, irmão no gol.
O atleticano é assim: tem a coragem do galo, mas não a crista.
Luta e vibra com raça e amor. Mas não se acha o dono do terreiro.
Sabe que precisa brigar contra quase tudo e contra quase todos. Até contra
o vento, na célebre imagem de Roberto Drummond.
Aquela que fala da camisa preta e branca pendurada num varal durante uma
tempestade. Para o escritor atleticano, ou, melhor, para o atleticano
escritor, o torcedor do Atlético sopraria e torceria contra o vento durante
a tormenta.
Não é metáfora. É meta de quem muitas vezes fica de fora da festa. Não
porque quer. Mas porque não querem.
Posso falar como jornalista há 17 anos e torcedor não-atleticano há 41: não
há grande equipe no país mais prejudicada pela arbitragem.
Os exemplos são tantos e estão guardados nos olhos e no fígado.
Não por acaso, o atleticano acaba perdendo alguns jogos e títulos ganhos
porque acumulou nas veias as picadas do apito armado.
Algumas vezes, é fato, faltou time. Ou só sobrou raça. Mas não faltou
aquilo que sobra no Mineirão, no Independência, onde o Galo for jogar:
torcida.
Pode não ser a maior, pode não ser a melhor, pode até se perder e fazer
perder por tamanha paixão, cobrando gols do camisa 9 como se todos fossem
Reinaldo, pedindo técnica e armação no meio-campo como se todos fossem
Cerezo, exigindo segurança e elegância da zaga como se todos fossem
Luisinho.
Mas não se pode cobrar ninguém por amar incondicionalmente.
O atleticano não exige bola de todo o time. Não cobra inspiração de cada
jogador. Quer apenas ver um atleticano transpirando em cada camisa, em cada
posição, em cada jogada.
Por isso pede para que o time lute.
É o mínimo para quem dá o máximo na arquibancada.
A maior vitória atleticana é essa. Mais que o primeiro Brasileirão, em
1971, mais que o vice mais campeão da história do Brasil, em 1977.
Os tantos títulos e troféus contam. Mas tamanha paixão, essa não se mede.
Essa é desmedida. Essa é a essência atleticana.
Essa é centenária.
Essa é eterna.
Mauro Beting Neves Filho."
Arrepiou?











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