Revista Placar: "As duas faces de Ronaldo."
Por Ricardo Perrone e Bernardo Idri.
Em dezembro do ano passado, os jogadores do Corinthians começaram a conviver com esse personagem de facetas distintas, habituado a frequentar o topo do mundo e o fundo do poço.
Ronaldo exibiu o estilo nove ou noventa durante sua recuperação no Corinthians.
Surpreendeu os novos amigos pela simplicidade.
Antes de começar o jogo contra o São Caetano, na sua estreia no Pacaembu, chutava a bola nos colegas que estavam no banco de reservas e provocava gargalhadas em todos.
Na parada técnica contra o Palmeiras, em Presidente Prudente, mostrou humildade. "Ele começou a colocar toalhas nas cabeças dos outros jogadores para protegê-los do sol", diz, encantado, Walmir Cruz, preparador físico do clube.
E foi numa noite de folga, também em Presidente Prudente, que Ronaldo mostrou sua outra face.
Esteve na mesma boate que os colegas, mas nada de companheirismo.
Protegido por um esquema especial de segurança, o Fenômeno não teve contato com os demais jogadores.
Quando Ronaldo retornou ao hotel, fora do horário, desrespeitou seguranças e chutou uma porta ao ser impedido de subir acompanhado.
Nem ligou de Mano Menezes ser acordado para botar ordem na casa. Como consequência, Antonio Carlos, que estava na boate, demitiu-se do cargo de diretor de futebol remunerado.
Não foi a exibição inaugural do lado B de Ronaldo desde que desembarcou no Parque São Jorge.
Clientes da boate Pink Elephant, palco da primeira balada paulistana em que ele foi flagrado por câmeras indiscretas, descrevem um Ronaldo arrogante.
Deu esbarrões em desconhecidos, tirou a camisa, que ficou girando com as mãos, e gritava: "Eu sou f…", para espanto geral.
Mano Menezes adotou o discurso de que o atleta estava de folga e não poderia ser cobrado.
Mas seu sangue esquentou após a balada em Prudente.
Discordou da diretoria, que queria abafar o caso, e pediu multa ao jogador. Conselheiros do clube duvidam que o castigo tenha sido aplicado.
Pessoas que trabalham com o treinador afirmam que Ronaldo levou outra punição, mais sutil.
Contam que Mano antecipou sua estreia colocando-o para jogar em Itumbiara.
Então, passaria a ser cobrado pela torcida.
Em seguida, mais uma vez, o jogador que brilhou na Copa de 2002, após ser dado como acabado para o futebol, saiu do limbo e triunfou.
Depois da estreia discreta, em Goiás, enlouqueceu torcedores com o gol de empate no fim contra o Palmeiras e fez mais um no jogo contra o São Caetano, sua estreia no Pacaembu.
"Fiquei impressionado com a reação que o gol provocou. No dia seguinte, apesar da crise, duas empresas nos procuraram com propostas firmes de patrocínio", afirma Fabiano Farah, agente do atacante.
Com torcedores e a mídia aos seus pés, voltou a ser fenômeno de popularidade, admirado até por torcedores de outros times e celebridades.
Apesar de ficarem mais à vontade perto do Ronaldo boa-praça, os jogadores corintianos enxergam pelo menos uma vantagem nas mudanças de comportamento do atacante.
Enquanto o ex-melhor do mundo é vigiado pela imprensa em suas noitadas, seus colegas festejam poderem se divertir sem alarde. Foi o que um dos atletas disse ao presidente Andrés Sanchez.
Alguns jogadores também estão acima do peso, mas ninguém comenta, pois os olhares estão voltados para o Fenômeno.
"Há uns quatro que precisam emagrecer", afirmou o preparador físico do Corinthians.
Em seu caminho para voltar a jogar, Ronaldo esbarrou em armadilhas no clube. Uma é conviver com dirigentes que, como ele, gostam de fumar e beber nas folgas.
E adoram sair com jogadores. Na semana antes do jogo com o Santos, Ronaldo e o presidente estiveram juntos numa festa.
Outro problema: pratas-da-casa reclamam que o clube trouxe reforços caros antes de acertar prêmios e direitos de imagem que estavam atrasados.
Ronaldo saiu ileso.
Para seus colegas, por tudo o que fez, merece ser o mais bem pago.
Melhor pegar no pé de Souza, que ganha 175000 reais, menos da metade do que o Fenômeno.
Os atletas se adaptaram logo ao novo integrante do time. Porém, evitam falar sobre Ronaldo.
Dirigentes, membros da comissão técnica e ex-companheiros de trabalho também.
Placar tentou ouvir Ronaldo, mas a assessoria de imprensa do Corinthians avisou ser impossível.
A espera seria pelo menos de mais duas semanas. Antes, o atacante atenderia a imprensa escrita internacional.
Ele topou posar para fotos. Desde que fosse rápido, sem perguntas e sem uniforme de jogo. A sessão começou às 16h20 e terminou às 16h22.
E o Ronaldo, hein? Opine!
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